Pesquisar este blog

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Uma mensagem a Garcia

Recebi esse texto em um treinamento que fiz. Foi de grande importância para mim, assim como deve ter sido para todos aqueles que antes de mim o leram. Espero que seja de grande importância para o leitor e que possamos assim, continuar com o processo de divulgação.
Transcrevo exatamente assim como recebi.
APOLOGIA AO AUTOR:
Esta insignificância literária, "Uma mensagem a Garcia", escrevia-a uma noite, depois do jantar, em uma hora. Foi a 22 de fevereiro de 1889, aniversário natalício de Washington, e o número de março da nossa revista "Philistine" estava prestes a entrar prelo. Encontrava-me com disposição para escrever, e o artigo brotou espontâneo no meu coração, redigido, como foi, depois de um dia afanoso, durante o qual tinha procurado convencer alguns moradores um tanto retinentes do lugar de que deviam sair do estado comatoso em que se compraziam, esforçando-me por incutir-lhes radioatividade. A idéia original, entretanto, veio-me de um pequeno argumento ventilado por meu filho Bert, ao tomarmos um café, quando ele procurou sustentar ter sido Rowan o verdadeiro herói da Guerra de Cuba. Rowan pôs-se a caminho só e deu conta do recado - levou a mensagem a Garcia. Qual centelha luminosa, a idéia assenhorou-se de minha mente. É verdade, disse comigo mesmo, o rapaz tem toda a razão, o herói é aquele que dá conta do recado - que leva a mensagem a Garcia.
Levantei-me da mesa e escrevi "Uma mensagem a Garcia" de uma assentada. Entretanto, liguei tão pouca importância a esse artigo que até foi publicado na Revista sem qualquer título. Pouco depois da edição ter saído do prelo, começaram a afluir pedidos para exemplares adicionais do número de março da Philistine: uma dúzia, cinqüenta, cem; e quando a American News Company encomendou mais de mil exemplares, perguntei a um dos meus empregados qual o artigo que havia levantado o pó cósmico.
- "Esse de Garcia" - retrucou-me ele.
No dia seguinte chegou um telegrama de George H. Daniels, da Estrada de Ferro Central de Nova Iorque dizendo: "Indique o preço para cem mil exemplares artigo Rowan, sob forma de folheto, com anúncios estrada de ferro no verso. Diga também até quando pode fazer a entrega." Respondi indicando o preço e acrescentando que podia entregar os folhetos dali a dois anos. Dispunhamos de facilidades restritas e cem mil folhetos afiguravam-se-nos um empreendimento de monta. O resultado foi que autorizei o Sr. Daniels a reproduzir o artigo em conforme lhe aprouvesse. Fê-lo então em forma de folhetos e distribuiu-os em tal profusão que duas ou três edições de meio milhão se esgotaram rapidamente. Além disso, foi o artigo reproduzido em mais de duzentas revistas e jornais. Tem sido traduzido por assim dizer, em todas as línguas faladas. Aconteceu que, justamente quando o Sr. Daniels estava fazendo a distribuição da Mensagem a Garcia, o Príncipe Hilakoff, diretor das Estradas de Ferro Russas, se encontrava nesse país. Era hóspede da Estrada de Ferro Central de Nova Iorque, percorrendo todo o país acompanhando o Sr. Daniels. O príncipe viu o folheto, que o interessou, mais pelo fato de ser o próprio Sr. Daniels quem o estava distribuindo em tão grande quantidade que, propriamente, por qualque outro motivo.
Como quer que seja, quando o príncipe regressou à sua pátria mandou traduzir o folheto para o russo e entregar um exemplar para cada empregado da estrada de ferro na Rússia. O breve trecho foi imitado por outros 5 países; da Rússia, o artigo passou para a Alemanha, França, Turquia, Hinduquistão e China. Durante a guerra entre Rússia e Japão, foi entregue a cada soldado russo que se destinava ao front.
Os japoneses, ao encontrarem os livrinhos em poder dos prisioneiros russos, chegaram a conclusão de que havia de ser coisa boa, e não tardaram a traduzir para o japonês. Por ordem de Mikado foi distribuido um exemplar para cada empregado, civil ou militar, do Governo Japonês. Para cima de quarenta milhões de exemplares de "Mensagem a Garcia" têm sido impressos, o que é sem dúvida a maior circulação jamais atingida por qualquer trabalho literário durante a vida do autor, graças a uma série de circunstâncias felizes.
Elbert Green Hubbard. Aurora Nascente, 01 de dezembro de 1913.
UMA MENSAGEM A GARCIA (Elbert Green Hubbard)
Em todo este caso cubano, um homem se destaca no horizonte de minha memória como o planeta Marte no seu periélio. Quando irrompeu a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos, o que importava a estes era comunicar-se a mente com o chefe dos insurretos, Garcia, que se sabia encontrar-se em alguma fotaleza do interior do sertão cubano, mais sem que se pudesse precisar exatamente onde. Era impossível comunicar-se com ele pelo correio ou pelo telégrafo. No entanto, o presidente tinha que tratar de assegurar-se de sua colaboração, e isto quanto antes. Que fazer?
Alguém lembrou ao presidente: "há um homem chamado Rowan; e se alguma pessoa é capaz de encontrar Garcia, há de ser o Rowan". Rowan foi trazido à presença do presidente, que lhe confiou uma carta com a incubência de entregá-la a Garcia. De como este homem, Rowan, tomou a carta, meteu-a num invólucro impermeável, amarrou-a sobre o peito, e, após quatro dias, saltou de um barco sem coberta, alta noite, as costas de Cuba; de como se embrenhou no sertão, para, depois de três semanas, surgiu do outro lado da ilha, tendo atravessado a ´pé um pais hostil, e entregando a carta de Garcia - são coisas que não vêm ao caso narrar aqui pormenorizadamente. O ponto que desejo frizar é este: Mac Kinley deu a Rowan uma carta para ser entregue a Garcia; Rowan pegou a carta e nem sequer perguntou: "onde é que ele está?": Hosana! Está ai um homem cujo busto merecia ser fundido em bronze imarcescível (minha nota: incorruptível, indestrutível) e sua estátua colocada em cada escola do país. Não é de sabedoria livresca que a juventude precisa, nem de instrução sobre isto ou aquilo. Precisa, sim, de um endurecimento das vértebras, para poder mostrar-se altívo no exercício de um cargo; para atuar com diligência para dar conta do recado; para, em suma, levar uma mensagem à Garcia.
O general Garcia já não é deste mundo, mas há outras mensagens para serem entregues. A nenhum homem que se tenha empenhado em levar avante uma empresa, em que a ajuda de muitas se torne precisa, têm sido poupados momentos de verdadeiro desespero ante a inbecilidade de grande número de homens, ante a inabilidade ou falta de disposição de concentrar a mente numa determinada coisa e fazê-la.
Assistência irregular, desatenção tola, indiferença irritante e trabalho mal feito parecem ser a regra geral. Nenhum homem pode ser verdadeiramente bem sucedido, salvo se lançar a mão de todos os meios ao seu alcance, quer da força, do suborno, para obrigar outros homens a ajudá-lo, a não ser que Deus Onipotente, na sua grande misericórdia, faça um milagre enviando-lhe como auxiliar um anjo de luz.
Leitor amigo, tu mesmo podes tirar a prova. Estas sentando no teu escritório, rodeado de meia dúzia de empregados. Pois bem, chama um deles e pede-lhe: "queira ter a bondade de consultar a enciclopédia e, de me fazer uma descrição sucinta da vida de Correggio" (minha nota: pseudônimo do pintor italiano Antonio Allegri, que nasceu em 1490, na cidade de Correggio).
Dar-se-á o caso de o empregado dizer calmamente: "sim, senhor" e executar o que se lhe pediu? Nada disso! Olhar-te-á perplexo e de soslaio para fazer uma ou mais das seguintes perguntas:
- Quem é ele?
- Que enciclopédia?
- Onde é que está a enciclopédia?
- Fui eu acaso contratado para fazer isso?
- Não quer dizer Bismark?
- E se Carlos o fizesse?
- Já morreu?
- Precisa disso com urgência?
- Não será melhor que eu traga o livro para que o senhor mesmo procure o que quer?
- Para que quer saber isso?
E aposto dez contra um que, depois de haveres respondido a tais perguntas, e explicado a maneira de procurar os dados perdidos e a razão por que deles precisas, teu empregado irá pedir a um companheiro que o ajude a encontrar Garcia, e depois voltará a dizer que tal homem não existe.
Evidentemente, pode ser que eu perca a aposta; mas, segundo a lei das médias, jogo na certa. Ora, se fores prudente, não te darás ao trabalho de explicar ao teu "ajudante" que Correggio se escreva com "C" e não com "K", mas limitar-te-ás a dizer meigamente, esboçando o melhor sorriso: "não faz mal; não se incomode", e dito isto, levantar-te-ás e procurarás tu mesmo. E esta incapacidade de atuar independentemente, está inépcia moral, está incalivez na vontade, está atrofia de disposição de solicitamente se pôr em campo e agir - são as coisas que recuam para um futuro tão remoto o advento do socialismo puro.
Se os homens não tomam a iniciativa de agir em seu próprio proveito, que farão quando os resultado do seu esforço redundar em benefício de todos? Por enquanto, parece que os homens ainda precisam ser feitorados. O que mantém muito emprego no seu posto e o faz trabalhar é o medo de, se não o fizer, ser despedido no fim do mês.
Anuncia precisar de um taquígrafo, e nove entre dez candidatos a vaga não saberão ortografar nem pontuar - e, o que é mais, pensam que não é necessário sabê-lo. Poderá uma pessoa destas escrever uma carta a Garcia? Ou levar uma mensagem a Garcia?
- "Vê aquele guarda-livros", dizia-me o chefe de uma grande fábrica.
- "Sim, que tem?"
- " É um excelente guarda-livros. Contudo, se eu mandasse fazer um recado, talvez se desobrigasse da incubência a contento, mas também, podia muito bem ser que no caminho entrasse em duas ou três casas de bebidas e que, quando chegasse ao seu destino, já não se recordasse da incubência que lhe fora dada".
Será possível confiar-se a tal homem uma carta para entregá-la a Garcia?
Ultimamente temos ouvido muitas expressões sentimentais, externando simpatia para com os pobres entes que moureijão de sol a sol, para com os infelizes desempregados à cata de trabalho honesto, e tudo isto, quase sempre, entremeado de muita palavra dura para com os homens que estão no poder.
Nada se diz do patrão que envelhece antes do tempo, num baldado esforço para induzir eternos desgostos e descontentes a trabalhar conscienciosamente; nada se diz de sua longa e paciente procura de pessoal, que, no entando muitas vezes nada mais faz do que "matar o tempo", logo que ele volta as costas.
Não há empresa que não esteja despedindo pessoal que se mostra incapaz de zelar pelos seus interesses afim de substituí-lo por outro mais apto. Este processo de seleção por eliminação está se operando incessantemente, em tempos adversos, com a única diferença que, quando os tempos são maus e o trabalho escasseia, a seleção se faz mais excrupulosamente, pondo-se fora, para sempre, os incopetentes e inaproveitáveis. É a lei de sobrevivência do mais apto.
Cada patrão, no seu prórpio interesse, trata somente de guardar os melhores - aqueles que podem levar uma mensagem a Garcia.
Conheço um homem de aptidões realmente brilhantes, mas sem a fibra precisa para gerir um negócio próprio e que ademais se torna completamente inútil para qualquer outra pessoa, devido a sua suspeita insana que constantemente abriga de que seu patrão esteja oprimindo ou tensiona oprimi-lo. Sem poder mandar, não tolera que alguém o mande. Se lhe fosse confiada uma mensagem a Garcia, retrucaria provavelmente: "leve-a você mesmo!".
Hoje este homem perambula errante pelas ruas em busca de trabalho em quase petição de miséria. No entanto, ninguém que o connheça se aventura a dar-lhe trabalho porque é a personificação do descontentamento e do espírito de réplica. Refratário a qualquer conselho ou ademoestação, a única capaz de nele produzir algúm efeito seria um pontapé dado com a ponta de uma bota de número 42, sola grossa e bico largo.
Sei, não resta dúvida, que um indivíduo moralmente aleijado, como este, não é menos digno de compaixão que fisicamente aleijado. Entretanto, nesta demonstração de compaixão vertamos também uma lágrima pelos homens que se esforçam por levar avante uma grande empresa, cujas horas de trabalho não estão limitadas pelo som do apito e cujos cabelos ficam prematuramente encanecidos na incessante luta em que estam empenhados contra a diferença desdenhosa, contra a imbecilidade crassa e a ingratidão atróz, justamente daqueles que, sem o seu espírito empreendedor, andariam famintos e sem lar.
Dar-se-á o caso de eu ter pintado a situação em cores demasiadamente carregadas? Pode ser que sim; mas, quando todo mundo se apraz em divagações, quero lançar uma palavra de simpatia ao homem que imprime êxito a um empreendimento, ao homem que, a despeito de uma porção de empecilhos, sabe dirigir e coordenar os esforços de outros e que, após o triunfo, talvez verifique que nada ganhou; nada, salvo a sua mera subsistência.
Também eu carreguei marmitas e trabalhei como jornaleiro, como, também, tenho sido patrão. Sei portanto que alguma coisa se pode dizer de ambos os lados. Não há excelência na pobreza de per-si; farrapos não servem de recomendação. Nem todos os patrões são gananciosos e tiranos, da mesma forma que nem todos os pobres são virtuosos. Todas as minhas simpatias pertencem ao homem que trabalha conscienciosamente, quer o patrão esteja ou não. E o homem que, ao lhe ser confiada uma carta para Garcia, tranquilamente toma a missiva sem fazer perguntas idiotas, e sem a intensão oculta de jogá-la na primeira sarjeta que encontrar, ou praticar qualquer outro feito que não seja entregá-la ao destinatário, este homem nunca fica "encostado", nem tem que se declarar em greve para forçar um aumento de ordenado.
A civilização busca ansiosa, insistentemente, homens nestas condições.
Tudo que um tal homem pedir, ser-lhe-á de conceder. Precisa-se dele, em cada dicade, em cada vila, em cada lugarejo, em cada escritório, em cada oficina, em cada loja, fábrica ou venda.
O grito do mundo inteiro praticamente se reune nisso:
Precisa-se, e precisa-se com urgência, de um homem capaz de levar uma mensagem a Garcia.
Está é minha mensagem à você, Garcia.
Fernando Ribeiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário